O Kwai é o aplicativo da moda e não há como negar. De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, divulgados em 2020, o app chinês de vídeos curtos teria cerca 200 milhões usuários diários ativos no mundo e mais de 1,5 bilhão de downloads. A rede conquista cada vez mais pessoas com um incentivo: dar dinheiro para assistir e compartilhar. A facilidade do sistema pode fazer pensar que é apenas outro viral, desta vez rivalizando com o TikTok, porém a realidade é outra.
Em entrevista ao Jornal das Sete, desta terça-feira (25), o professor da UCDB e especialista em Direito Digital, Raphael Chaia alertou para algumas armadilhas nos termos de uso do app em que o usuário concede a coleta e o uso dos dados. “Basicamente esse dinheiro que o Kwai paga para o usuário são alguns trocados para que eles possam ter acesso amplo e irrestrito aos nossos dados e informações”.
“A gente tem que sempre que lembrar que não existe almoço grátis”, alerta o professor sobre o fato da simplicidade do aplicativo maquiar as intenções da empresa. “Sempre recomendo que quando algo é muito bom, dar uma olhada nos termos de uso e na política de privacidade do aplicativo para entender como vai funcionar”.
Raphael Chaia fez isso e conta que se surpreendeu. “Quando você entra na página está tudo em português, mas os termos de uso de privacidade estão em chinês”. O idioma é um impeditivo intencional evidente para compreensão de como a empresa age em relação à segurança dos dados dos usuários. Na tradução do do texto, o professor se deparou com trechos extremamente preocupantes. “Ele possui cláusula que deixa bem claro que dados e informações do usuário serão coletados, alguns mesmo sem autorização expressa, para sem utilizados para fins que não constam na política de privacidade”.

Por que querem meus dados?
“Os dados são o novo petróleo”, já dizia o matemático Clive Humby. O mantra é repetido aos montes por executivos da área digital e ganhou um adendo peculiar do CEO da Mastercard, Ajay Banga, que acrescentou destacando que “a diferença é que o petróleo vai acabar um dia”.
Atualmente o grande objetivo dos softwares e aplicativos coletarem os dados do usuário é usá-los para publicidade personalizada, por contratos publicitários alimentados por algoritmos que só conseguem fazer esse direcionamento porque coletam os nossos dados.
Tem como evitar?
Boa parte das ações para evitar a coleta indiscriminada dos dados depende dos próprios usuários. Uma delas é passar a ler os contratos dos aplicativos e softwares antes de aceitá-los. Raphael Chaia destaca que “a gente tem que criar essa cultura de pelo menos dar uma passadinha de olho nos termos de uso e principalmente na política de privacidade antes de sair aceitando qualquer coisa porque são nesses documentos que ficam as armadilhas”.
Infelizmente, muita gente continua não dando o devido valor aos seus dados e permanece indiferente acerca da maneira que as empresas do ramo digital coletam e usam as informações dos usuários. Fica o recado do professor: “Não adianta reclamar depois que você começou a receber um monte de ligação de spam, e-mail de spam, ou pior ainda, receber links maliciosos por e-mail ou outros meios de contato”.
Eles só crescem
Recente a Conmebol anunciou que o Kwai será um dos patrocinadores da Copa América. Ser anunciante de uma competição continental do futebol exige alguns milhões e para Chaia “isso coloca em perspectiva para gente quanto valem nossos dados. A gente está falando de um aplicativo de vídeo, que agora está ficando popular, patrocinando um dos maiores eventos esportivos da américa latina. De onde vem todo esse dinheiro?”.
Ouça a entrevista completa com todos os detalhes. O professor Rapahel Chaia fala também das medidas legais que podem ser adotadas: