Mandetta sobre gestão de Bolsonaro na pandemia: ‘O que a gente poderia fazer unido como país foi minado’

Karina Anunciato e Michael Franco

Foto: Marcello Casal Jr - Agência Brasil

Jornal das Sete, desta sexta-feira (19), conversou com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta para saber como ele analisa a situação do país em relação à pandemia de covid-19, praticamente um ano depois de ter iniciado o combate à doença, ainda no comando da pasta. Ele salientou que “ninguém é culpado porque o vírus surgiu, nem a China”, porém comportamentos do presidente Jair Bolsonaro dificultaram o trabalho.

“O único governo no mundo que não muda a maneira de encarar [a doença] é o brasileiro. […] O presidente tinha que usar máscara, manter a distância, lavar as mãos e, se ele pudesse, não aglomerar nunca. Mas aí quando ele fala ‘eu não vou usar máscara, isso é coisa de marica’ isso não ajuda em nada, só ajuda o vírus. Então esse comportamento acaba sendo mais um elemento pra gente administrar”.

Mandetta contou que nunca brigou com Bolsonaro, mas sempre o alertava sobre alguns temas como o tratamento precoce com a cloroquina. “Viramos uma farmácia de horrores, porque o vínculo com o médico é um dos pontos chaves para enfrentar essa doença. Isso também foi minado em função do presidente adotar essa política”. O ex-ministro também falou que a situação foi agravada, também por conta do comportamento do presidente da República em relação às vacinas.

“acaba que o conjunto da obra faz com que O que a gente poderia fazer unido como país foi minado”

Ouça a entrevista completa com Luiz Henrique Mandetta:

Paulo Guedes

Recentemente, em declaração dada à CNN, o ministro da Economia Paulo Guedes criticou a gestão de Mandetta em relação às vacinas. De acordo com o chefe do setor econômico, desde a época em que o ex-deputado comandava a Saúde existe atraso na negociação de doses. “A entrega da vacina não está atrasada só agora, não. No primeiro dia, Mandetta saiu com R$ 5 bilhões no bolso. É desde aquela época que deveríamos estar comprando vacina, não é mesmo? O dinheiro estava lá”.

O ex-ministro da Saúde rebateu. “Eu vejo uma narrativa de desespero de falar ‘joga isso para outra pessoa'”. Mandetta lembra que na época em que estava dirigindo a pasta, não havia nem possibilidade de negociação de vacianas. “Eles me impediram de trabalhar no dia 16 de abril, o primeiro teste em humano foi em maio, não existia nenhuma vacina do planeta sendo se quer oferecida […] então essa fala torpe, baixa, desonesta só serve para o pessoal que está na militância falando ‘olha o culpado não é o Bolsonaro, o culpado é o Mandetta'”.

Críticas

O ex-ministro é muito questionado sobre a decisão de pedir que as pessoas procurassem um hospital apenas quando apresentassem sintomas mais graves. Ele explica que, quando estava à frente do Ministério, a pandemia ainda era algo novo e pessoas desinformadas ou em pânico iam às unidades de saúde sem necessidade.

“As pessoas naquele momento procuravam hospitais, pessoas que ficam com quadro de ansiedade forte e diziam ‘eu preciso fazer o teste, estou com aquele vírus’ . Havia naquele momento uma sensação de pânico […] então a gente orientava que não existia vírus, não estava circulando e mesmo depois do primeiro casos, levaria bastante tempo para uma transmissão sustentada”.

Mandetta ainda comenta que o fato também faz parte de jogadas políticas. “É a mesma coisa. A chamada guerra de narrativas, pegam essa frase jogam na internet, utilizam seus robôs milhares de vezes e contaminam o cidadão e faz ‘poxa esse cara falou que não era grave'”.

Eleições 2022

“Eu não estou enxergando muito 2022, porque não estou tendo tempo”, finalizou Mandetta.